

Primeiro destino de seu papado, Brasil relembra Francisco com emoção
Com as emoções à flor da pele, Monique Neves se lembra, na Catedral de São Sebastião do Rio de Janeiro, de quando o papa Francisco pegou nos braços seu filho de três meses em 2013.
“Foi o primeiro bebê que o papa Francisco pegou aqui no Brasil”, conta, enquanto mostra à AFP a minúscula camiseta com o rosto do pontífice que seu filho vestia naquele dia.
Como centenas de fiéis brasileiros, esta mulher foi ao maior templo católico da cidade após saber da notícia do falecimento do papa argentino, de 88 anos, nesta segunda-feira (21).
Muitos começaram a chorar ao evocar a trajetória do pontífice.
O Rio de Janeiro recebeu Francisco em julho de 2013, na primeira viagem ao exterior de seu papado.
“Todo o legado que ele deixou foi de resiliência, amor ao próximo, independente de cor, classe social, religião, orientação sexual”, afirma Neves, de 44 anos. "É um papa que veio para revolucionar mesmo".
O arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, celebrou uma missa multitudinária em homenagem ao pontífice na Catedral Metropolitana, um imponente prédio modernista inspirado na pirâmide maia de Chichén Itzá, no México.
Ele pediu que sejam lembradas as ideias de Jorge Bergoglio de que "o mundo precisa de mais justiça" e que "só a misericórdia resolve” os “grandes problemas da humanidade".
O Brasil é considerado o país mais católico do mundo, mas a Igreja vem perdendo fiéis desde a década de 1990, enquanto crescem os das denominações pentecostais.
- Agradecido -
"Sinto muita tristeza no mundo, sinto um vazio no meu coração, como se até mesmo o céu estivesse chorando", disse, apontando para o céu nublado, a mexicana Guadalupe Monroy Miguera, de 63 anos, que foi surpreendida pela notícia durante suas férias no Rio.
O anúncio do falecimento reacendeu nos católicos brasileiros o orgulho de terem sido escolhidos para a primeira visita de seu líder espiritual ao exterior após sua nomeação.
Perto da igreja Nossa Senhora de Copacabana, o taxista Antonio Correia, de 51 anos, conta que sempre se sentiu muito agradecido ao papa por isso.
“Foi até uma surpresa pra mim, porque eu achei que ele iria pra Argentina por ser o país dele. Mas não, ele escolheu o Brasil. Pra gente foi maravilhoso”, lembra.
Na ocasião, o pontífice reuniu 3,7 milhões de pessoas na praia de Copacabana para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), o maior encontro católico do mundo.
"Foi assim, uma paz total no Rio (...) As pessoas, até mesmo que não eram católicos, sentiram o bem, sabe? Ele era uma pessoa do bem", rememora Correia.
- "Muita cachaça e nada de oração" -
Nas redes sociais, muitos brasileiros fizeram circular novamente um vídeo de 2021 no qual o papa, conhecido por suas saídas espontâneas, brinca com um padre brasileiro que lhe pediu no Vaticano para orar por seus compatriotas.
"Vocês não têm salvação. Muita cachaça e nada de oração", disse Francisco entre risos.
Também se lembraram de quando, durante sua viagem ao Brasil, afirmou em uma entrevista que a rivalidade entre Brasil e Argentina já não existia.
"Negociamos bem: o papa é argentino, mas Deus é brasileiro", soltou com um sorriso.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou a partida de Francisco e elogiou suas críticas aos “modelos econômicos que levaram a humanidade a produzir tantas injustiças”, e por colocar-se "sempre" ao lado dos “pobres, os refugiados, os jovens, os idosos e as vítimas das guerras e de todas as formas de preconceito”.
O ex-presidente Jair Bolsonaro, que se recupera em um hospital de Brasília de uma intervenção cirúrgica, também dedicou uma mensagem em suas redes sociais ao pontífice.
“Sua partida nos convida à reflexão e à renovação da fé, lembrando-nos da força da espiritualidade como guia para tempos de incerteza”, escreveu no X Bolsonaro, que se declara católico mas tem uma forte base eleitoral entre os evangélicos.
L.Ruiz--GM